O dia 03 de fevereiro foi muito especial para a comunidade de Morro Agudo, em Nova Iguaçu, e tambem para o hip hop do brasil. Nesse dia foi o lançamento do livro Enraizados os hibridos glocais, escrito por Dudu do Morro Agudo (DMA), editado pela editora aeroplano. O lançamento ocorreu no Espaço Enraizados no Morro agudo, onde aconteceu a mostra cultural do enraizados, com Sarau, apresentações de rap e batalha de mcs. Nesse livro DMA narra a fantástica história do movimento enraizados que nasceu para interligar grupos de hip hop do Brasil e criar uma grande rede de apoio-mutuo entre os participantes. Segundo DMA, a palavra que define a trajetoria do enraizados é milagre. Como um bando de garotos de morro agudo conseguiriam, a partir de três cartas enviadas a uma revista de rap, ter hoje uma rede presente e 20 estados e 10 países! Dudu conta a história do Enraizados a partir do seu ponto de vista, com uma narrativa contudente, sem meias palavras, direto ao ponto. Mostra em que direção seus sonhos o guiavam e como ele ia em busca deles. Hoje o Enraizados é uma grande referência no hip hop nacional, coordena pontão de cultura digital, Projovem adolescente, participa de congressos entre outras dezenas de atividades. Uma preocupaçao central desde o inicio do movimento é a exigibilidade de direitos negados as periferias, fato que marca luta dos enraizados por políticas públicas que promovam igualdade e justiça social. Esse é um livro imperdivel. Um relato vivo de que a periferia não é somente o lugar do medo ou da escassez, mas pode ser o lugar da potência e da criaçao. A mistura de arte, militância, hip hop e politica produziu uma nova narrativa para o bairro de Morro Agudo, novas alternativas de vida para os morados e possibilidade de diálogos com o Brasil e com o mundo. Esses são os hibridos Glocais.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
O meu bilhete é único
Sento no fundo, abro a janela e sinto o vento bater no rosto. Meio prosa meio poesia levo a vida nos ônibus, meu cavalo alado nessa selva de pedra. A novidade é o bilhete único. Desapertou a coleira dos passageiros. O transporte é público, mas a concessão é privada. Alguns precisam ganham milhões para que as pessoas tenham o direito de circular pela cidade. Mas agora tenho bilhete único. Com 4,40 vou até o pontão da ECO na Urca ou até o Pontão do Enraizados no Morro Agudo. Geração digital fazendo a ligação a Baixada- Zona Sul com cabos óticos e wireless. Mas deixa eu voltar ao ônibus. Até a Central são 5,60. Mais 2,40 pra zona sul ou zona norte. Oito pratas só pra ir.
Agora esse negócio de só duas horas para pegar outro ônibus é meio caô. Os engarrafamentos estão enormes. Avenida Brasil, Dutra e Washington Luis. Carros, ônibus, caminhões e motos disputam cada centímetro de asfalto na corrida contra o tempo. Frustração no cotidiano de quem está em pé, espremido com mais setenta passageiros. De vinte a trinta quilômetros de engarrafamento para começar o dia, junto com um gole de café preto e uma fatia de queijo branco.
A capa para o bilhete único é um real na central e vem com uma cordinha. Preciso cuidar bem do bilhete que economiza o meu dinheiro e dá fôlego para andar pela cidade. Não pense você que isso é apologia ao governo Cabral. Eu votei no Jeferson Moura. Aliais, nesse mesmo ônibus em que pago menos, não tem cobrador. Motorista dirigindo e cobrando, se estressando dobrado, comprometendo a segurança dos passageiros e atrasando a viagem.
Sigo em frente. Passo o cartão na maquininha amarela e a tela avisa zero reais. A luz verde acende e rodo a roleta. Adoro. O busão passa pelo cais do porto, região central onde a cidade começou. São as obras do Porto maravilha! Milhões em investimentos e dezenas de despejados. Especulação imobiliária, farra com o dinheiro público e o direito a moradia negado. Acabou a euforia da escolha da cidade sede. As aves de rapina estão prontas pra dar o bote enquanto a gente brinca no parquinho da praça. Vejo tudo isso pela janela do busão, onde um clipe sem musica acontece diante de nossos olhos. Encerro por aqui porque preciso andar. Ainda tenho credito no bilhete.
Henrique Silveira
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