quarta-feira, 9 de março de 2011

Nietzche e Juventude

Durante os anos da juventude, se venera ou se despreza ainda sem essa arte da nuance que constitui o melhor benefício da vida e, mais tarde, é natural que se pague muito caro por ter assim julgado coisas e pessoas por um sim e por um não. Tudo é disposto de forma que o pior gosto, o gosto do absoluto, seja cruelmente burlado  e profanado até que o homem aprenda a colocar um pouco de arte em seus sentimentos e que, em suas tentativas, dê preferência ao artificial, como fazem todos os verdadeiros artistas da vida. A inclinação à cólera e o instinto de veneração, que são próprios da juventude, não parecem repousar até que tenha desfigurado homens e coisas, para poder assim desafogar. A juventude em si já é alguma coisa que engana e falsifica. Mais tarde, quando a alma jovem, torturada por mil desilusões, se encontra finalmente cheia de suspeitas contra si mesma, ainda ardida e selvagem, mesmo em suas suspeitas e remorsos, como haverá de entrar em cólera contra si mesma, como haverá de dilacerar com impaciência, como a haverá de se vingar de sua longa cegueira, que se poderia julgar voluntária, tanto se enfurece contra ela! Nesse período de transição, o homem pune a si mesmo, por desconfiança de seus próprios sentimentos; martiriza seu entusiasmo pela dúvida, a boa consciência já aparece como um perigo, a ponto que se poderia acreditar que o eu está irritado com isso e que uma sinceridade mais sutil se cansa com isso; e sobretudo, toma partido, por princípio, contra a “juventude”. Dez anos mais tarde se dá conta que isso também não foi senão juventude.

Nietzche, Além do bem e do mal, pag.48.

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